Anita tem 38 anos. Divorciada, casada por mais de duas décadas, mãe de duas filhas, uma de 23 e outra de 14, filha de feirantes. Trabalhava todos os dias na barraca de seus pais, ajudando na venda de pastéis, podendo só descansar uma vez por semana, e justo nas segundas-feiras.
Casou-se cedo com um brasileiro. Filha de asiáticos, o namoro não foi aceito pelos pais e, devido à criação clássica, engravidar foi a sua escolha para poder sair de casa e viver seu grande amor.
Com o passar dos anos, o relacionamento foi mudando. Toda a liberdade que almejava se tornou um casamento frio e vazio. Em seu lugar ergueu tristeza e solidão. O marido mal a tocava, não saia mais, não havia passeios, não havia momento para dois. E o resultado, mais que esperado, foi o fim de seu casamento, quando decidiu voltar para a casa de seus pais.
Decidiu mudar de vida. Passou a curtir todos os momentos de sua vida à partir daquele momento. Suas filhas, já crescidas, ficavam com seus pais. Diversas vezes voltou alterada pela bebida e fascinação que a noite pode proporcionar. Eram cinemas, bares, jantares, baladas, restaurantes, lanchonetes, shows etc. Com o tempo, deixou de beber, mas não de sair.
Não era uma má mãe. Frequentemente saía com suas filhas. Levava-as ao shopping, ao parque, compras. Mas a intimidade necessária, ainda era escassa. A noite era só uma sobremesa para um dia cheio de trabalho e uma tarde com as filhas. No fim das contas, havia uma certa ausência.
Certa noite, sua filha mais nova a despertou se queixando de dores do abdômen. Calmamente, se levantou, e foi até a sala. Sentou ao seu lado, e na primeira frase que começava a soltar, viu sua filha tendo um ataque de convulsões. Entrou em desespero.
Acordou o irmão, foram ao hospital. E após um dia, saiu o resultado de exame, entregue pela psicóloga de plantão, sobre uma possível tentativa de suicídio, por ingestão de diversos medicamentos em grande quantidade. Foram os três dias mais tristes de sua vida, onde ficou ao lado de sua filha, apenas se questionando onde havia errado.
A vida é uma só para ser desperdiçada. E de diversas maneiras pode ser aproveitada. Seja com a família, os amigos, consigo mesma. Mas principalmente com seus filhos. Analise calmamente sobre seus atos, e reveja seus planos. Nem sempre temos uma segunda chance.