Sexta-feira, dezenove horas, saindo do trabalho. O celular toca, cliente externo ligando. Meu primeiro pensamento foi atender e bater um papo. Depois lembrei de quem se tratava, um amigo de meu pai, com quem trabalhei alguns anos atrás, fazendo freelance.
Não, hoje é sexta e eu quero descansar.
Primeira ignorada e continuo meu trajeto até meu tão aclamado destino, meu computador e minha cama, ambos me aguardando para uma deliciosa noite de descanso acompanhado de Johnny, um pouco de música e, porque não, algumas horas de séries atrasadas.
Não passou cinco minutos e novamente o telefone toca. Novamente o mesmo cliente com mais uma ignorada master. Passada rápida no mercado, suprimentos comprados. E mais uma vez o telefone toca.
Última chance de ignorar. Pensei nas contas, os gastos com trivialidades que não dispenso, um presente novo para meu filho, um jantar mais luxuoso com a namorada. Quem sabe fosse algo realmente simples e lucrativo trabalhar no sábado e descansar no domingo?
Resolvi atender, eu sabia que ele não iria parar até que eu desse minha resposta.
– Tenho um trabalho. Preciso de sua ajuda.
– Boa noite, né querido?
– Boa noite, e não me chame de querido!
– Desculpe, força do hábito. Qual o trabalho?
– Um vidro. Preciso reproduzir três vezes.
– Bom… Quais as medidas?
– Ah… Mais ou menos três palmos, por… Hum… Quatro palmos e meio!
– Hum… Palmos grandes ou pequenos? Haha…
– Ah… Do tamanho do meu! Mas, qual a graça?
– Bom… Deixa pra lá… Passa lá em casa mais tarde e deixa comigo.
– Quanto fica?
– Para você sai baratinho. Só R$ 1.000,00 pelos três!
– P*** q** P****!! Você bebeu? Acha que eu ganhei na loteria?
– Hum… E você? Acha que sou advinho?
– Ah… Faz um desconto? Pelo seu pai?
– Ok, fica R$ 1.500,00.
– Bom… Te vejo depois…
Resultado final? Menos uma encrenca.