Anoitece em São Paulo. Hoje é uma sexta feira, agora são quase 20h da noite, com um clima tranquilo, nem quente nem frio, e sem sinais de chuvas.
Tatiana, uma jovem de 20 anos, recém chegada à grande São Paulo, uma entre três locatárias de uma pequena casa na Zona Leste. Trabalha em um pequeno mercado, recebendo um salário que dá para o aluguel e comida, e o pouco que sobra envia para os pais no interior.
Hoje, junto de sua colega de trabalho, sai com seus cabelos coloridos, unhas bem feitas, maquiagem perfeita, se aventurando pela selva noturna de concreto, de encontro aos prazeres noturnos que a cidade oferece.
Chegam a uma casa noturna na Augusta. Passam pela revista, e no caminho para a chapelaria, a amiga lhe oferece um comprimido, algo para “melhorar a diversão” e confiante na mesma, toma sem hesitar. Em poucos segundos se perde da colega e, resolve tomar um drink. Sky Madrid. Sex on The Beach. Sant Remy. Orgasmo. Lagoa azul.
Entre um drink e outro, se diverte na pista de dança, com o som alto que não conhecia mas que junto das bebidas a motivavam a dançar e dançar e dançar. Ao mínimo deslize, esbarra num rapaz. Este, de camisa azul, cabelos loiros topetinho arrepiados, olhos verdes, sorriso impecável.
Entre as desculpas e olhares, os dois conversam e resolvem partilhar a dança. Para ela, um sonho se realizando, algo que nunca havia acontecido, se sentia uma princesa em um baile que não podia acabar tão cedo. E quando menos esperava, ele lhe rouba um beijo. E a pobre garota do interior se entrega…
Entre um beijo e outro, um drink. Mais conversa… Mais beijos… De repente… Veio o mal estar, tudo começou a rodar, tontura, alucinação… Tudo apagou…
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Uma voz ao fundo chama sua atenção… Luzes, muitas luzes à sua frente, muita gente de branco e azul, luvas e luvas…
– Ela acordou! Avisem os pais!
– Onde… Onde eu estou?
– Querida, fique calma. Tudo vai ficar bem!
– Ficar bem? O que aconteceu?
– Você foi dopada. Esteve dormindo por três dias. Você…
– Eu o que?? Me responde!!
– Você acabou de sair da cirurgia. É um assunto delicado, mas eu tenho que te informar…. Você foi estuprada, encontraos diversas as lesões, muitas são graves. Infelizmente… Infelizmente você não poderá mais ter filhos…
Atônita, chocada, nada mais fazia sentido… E ainda não faz… Hoje? O que aconteceu? A última coisa que ela se lembrava era o rapaz na balada… E… O que aconteceu?
Todas as cores alegres que vira na baladinha… Todas as aventuras que sonhava ter… Seus sonhos, desejos, vontades… Tudo se fora… E a vida, é amarga, como sempre será, enquanto se lembrar dele… Que ainda está a solta… E ela… Nada pode fazer.