Todos nascemos com duas certezas na vida. A de que iremos viver, e a de que um dia iremos partir. Não importa como ou quanto, é certo que viveremos e que um dia, morreremos. E o que ficará de nós quando nossa hora chegar? O que deixaremos para trás? Riquezas? Sabedoria? Exemplo? Vergonha? E o que haverá do outro lado da vida?
Meu pai dizia: “Sabemos como somos amados, pelas pessoas que vão ao nosso enterro”.
E foi com esse pensamento que minha sexta-feira começou, quando recebi uma ligação de um primo pedindo que eu avisasse meus pais sobre o estado de saúde de meu tio. A notícia foi tão chocante que, eu não consegui me segurar. As lágrimas simplesmente corriam só de pensar que eu perderia este tio.
Passei o caminho inteiro até o trabalho pensando no que fazer, mesmo que as alternativas fossem tão… Escassas. E… Mal cheguei no trabalho, avisei meus chefes, pedi uma ajuda financeira a um deles, e… Quando dei por mim, já estava à caminho de outro estado, para visita-lo no hospital.
Não era um tio qualquer. Era quase como um pai para mim. Cresci junto dele e de meus primos, bem na época que não tive meu pai por perto. Viajei diversas vezes para a casa dele, passar as férias na praia. São tantas memórias.
E a cena que presenciei não foi nada agradável. Aquele homem que eu tanto admirava, forte, imponente, viril, com seus 100kg, estava bem ali à minha frente, debilitado, enfraquecido. E eu nada poderia fazer para ajuda-lo. Passei a noite no hospital, à base de café, cigarro e bolachas, tentando aproveitar a companhia de alguns parentes que não via há anos, e talvez, fechar um pouco da lacuna de quase uma década longe deste tio. E quando dei por mim, amanhecia, e tive de voltar para casa, para ver meu filho que vinha passar o fim de semana comigo.
Não imagino como será daqui uns anos, quando serei eu naquele leito, e meu filho na cadeira me acompanhando. E espero que eu seja um ótimo pai para que seja realmente ele ali naquela cadeira.
Eu não gosto de religião, nem assuntos co-ligados. Mas se há realmente um céu e um Deus, eu tenho certeza que chegada a hora, é para lá que esse meu tio irá. Espero sinceramente que ainda consiga vê-lo mais vezes, antes que ele parta. É o que mais desejo neste momento.